segunda-feira, 17 de maio de 2010

Alter ego.

"Estou cansado de ser vilipendiado, incompreendido e descartado. Quem diz que me entende, nunca quis saber...
Aquele menino foi internado numa clínica, dizem que por falta de atenção dos amigos, das lembranças, dos sonhos que se configuram tristes e inertes.
Como uma ampulheta, imóvel, não se mexe, não se move, não trabalha.

E Clarisse está trancada no banheiro e faz marcas no seu corpo com seu pequeno canivete...Deitada no canto, seus tornozelos sangram.
E a dor é menor do que parece quando ela se corta, ela se esquece que é impossível ter da vida calma e força...Viver em dor, o que ninguém entende, tentar ser forte a todo e cada amanhecer.
Ninguém entende, não me olhe assim com este semblante de bom-samaritano cumprindo o seu dever como se eu fosse doente, como se toda essa dor fosse diferente, ou inexistente.
Nada existe pra mim, não tente. Você não sabe e não entende.
E quando os antidepressivos e os calmantes não fazem mais efeito, Clarisse sabe que a loucura está presente e sente a essência estranha do que é a morte, mas esse vazio ela conhece muito bem.
De quando em quando é um novo tratamento, mas o mundo continua sempre o mesmo...O medo de voltar pra casa à noite, os homens que se esfregam nojentos no caminho de ida e volta da escola, a falta de esperança e o tormento de saber que nada é justo e pouco é certo, e que estamos destruindo o futuro, e que a maldade anda sempre aqui por perto, a violência e a injustiça que existe contra todas as meninas e mulheres, um mundo onde a verdade é o avesso e a alegria já não tem mais endereço...

Clarisse está trancada no seu quarto com seus discos e seus livros, seu cansaço...

Eu sou um pássaro. Me trancam na gaiola, e esperam que eu cante como antes.
Eu sou um pássaro, me trancam na gaiola...Mas um dia eu consigo existir e vou voar pelo caminho mais bonito.

Clarisse só tem 18* anos."

Nenhum comentário: